sábado, 19 de novembro de 2011

António Costa quer taxa sobre bombas de combustível para financiar transporte público

       O presidente da Câmara de Lisboa defendeu hoje uma taxa sobre bombas de combustível da Grande Lisboa e um encaixe de parte das portagens cobradas à entrada da capital como uma forma de obter receitas para solucionar o financiamento das empresas de transporte público.
       António Costa, que falava numa conferência organizada pelo PS sobre transportes públicos na área metropolitana de Lisboa, disse que a única forma de viabilizar o sistema de transporte público, depois de resolvido o passivo das empresas, seria, no caso da Grande Lisboa, o contributo de vários agentes para o seu financiamento.
       Entre as várias propostas, o autarca propõe a "taxação especial sobre cada litro de combustível vendido nas bombas da área metropolitana de Lisboa", uma solução que ajudaria, não só o sistema de transportes, mas também desincentivaria a utilização do carro particular.
       "É preciso que essa taxa seja aplicada em toda a área metropolitana de Lisboa de forma a que não haja problemas de concorrência entre municípios", disse.

Percentagem das portagens


       Para António Costa, uma outra forma de receita para o sistema de transporte seria a introdução de uma percentagem sobre as portagens que servem a cidade de Lisboa. "Porque não o sistema de transporte público arrecadar parte da receita do aumento das portagens para 2012 em vez de ir toda para os concessionários?", perguntou.
      António Costa defendeu para isso a "renegociação com os concessionários das pontes [25 de Abril e Vasco da Gama] e autoestradas que servem Lisboa de forma a financiarem o sistema público de transportes".
      O autarca reafirmou também a intenção de as câmaras municipais terem uma palavra a dizer sobre a gestão das empresas de transporte e acrescentou que, para isso, até "devem contribuir financeiramente".

"É preciso romper com várias lógicas e mentalidades"

      
       Aliás, uma forma de contribuição, segundo António Costa, poderia ser parte do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) recebido pelas autarquias, que, "embora já esteja previsto na lei, o Ministério das Finanças tem grande dificuldade em dizer às autarquias qual a parte correspondente".
       Para que estas propostas sejam aplicadas, o presidente da Câmara de Lisboa referiu que "é preciso romper com várias lógicas e mentalidades" de todos os agentes envolvidos.
       Criticou ainda o Governo pela forma como está a gerir a reestruturação das empresas públicas de transporte: "O método que o Governo seguiu não foi o bom caminho" e "encomendar um relatório que afinal não está pronto e é apenas um repositório de opiniões ouvidas" não está a ser a melhor solução.
       António Costa afirmou também que, para que o sistema de transporte público melhore, é necessário dar "prioridade na mobilidade ao transporte público dentro da área metropolitana de Lisboa", haver um novo "relacionamento entre as empresas de transporte público e as autarquias" e uma "maior eficiência" ao nível dos recursos existentes.

Online,19 de Novembro de 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

“Moeda única parece ter sido um erro”

Economista-chefe da Schroders diz que a zona euro pode ficar reduzida a um núcleo de meia dúzia de países.
       A zona euro foi mal construída e, neste momento, não sabe como lidar com a crise de dívida soberana. É esta a opinião de Keith Wade, economista-chefe da Schroders, que acrescenta que a ausência de uma real união política pode resultar na saída de alguns países do euro.


Estamos a assistir a uma ‘germanização' da Europa?
       Em muitos aspectos parece que sim, para sair da crise, a Alemanha disse que os países têm de adoptar medidas de austeridade para reduzir os seus défices orçamentais e também aumentar os seus níveis de competitividade. E há alguma verdade nisso, mas o problema é que a melhoria nas contas públicas é muito lenta quando o crescimento é fraco. E a segunda coisa é que a melhoria na competitividade também é muito lenta porque precisamos de reduzir a inflação por um longo período, para baixo dos 2%. E isso é muito difícil de conseguir. Creio que a Alemanha está a impor esta solução, mas não creio que seja sustentável. A Alemanha também se opõe muito à possível adopção de uma estratégia de ‘quantitative easing' pelo BCE mas é claro que nesta altura, a Alemanha é o único país que tem um rating de triple A sustentável e todos têm de ouvir a Alemanha porque é ela que tem de pagar por todos. A Alemanha está a tentar que os governos se comprometam ao máximo ao nível do rigor orçamental e disciplina antes de dizer que o BCE pode fazer algo mais.


E a solução então passa por aí? Uma combinação entre uma maior disciplina orçamental e o BCE a agir?
      Sim, acho que as duas coisas têm de actuar juntas, mas o que preocupa a Alemanha é que isto não é uma mesmo solução, porque se o BCE imprime dinheiro e compra obrigações, os países vão pensar que "óptimo, não temos de nos preocupar em conseguir financiamento nos mercados porque podemos aceder ao BCE",... e a Alemanha preocupa-se com isso porque isso iria fazer desaparecer o incentivo pela disciplina orçamental.


Mas acha que o BCE devia começar a imprimir dinheiro? É essa a solução?
      É uma solução. Mas só iria resultar no curto prazo. Se o BCE imprimisse dinheiro, isso iria provocar fortes subidas nos mercados e os juros dos países periféricos iriam descer, embora pense que as ‘yields' alemãs iriam subir. Mas no longo prazo não é de todo uma solução, porque significa que todos iriam pensar que é a Europa de sempre, pedem demasiado dinheiro emprestado e quando já não conseguem, imprimem dinheiro para resolver as coisas. No longo prazo a Alemanha tem razão. Não podemos conseguir nada imprimindo dinheiro. É preciso disciplina orçamental e também aumentar os incentivos à competitividade, às empresas competitivas. A Alemanha diz que a grande fonte de crescimento são as empresas a produzirem produtos que as pessoas querem. Apenas imprimir dinheiro não ajuda nisso. No longo prazo não resulta, mas talvez no curto prazo deva ser a solução.


A moeda única foi um erro?
       Neste momento parece que sim. Na altura em que se criou a moeda única, muitos economistas e eu disse o mesmo, que quando olhamos para uniões monetárias, elas são bem sucedidas mas para isso é preciso que exista uma união política. Por exemplo, o Reino Unido é uma união monetária - temos a mesma moeda em Inglaterra, Escócia e País de Gales - mas existe uma união política. As pessoas do Reino Unido têm de pagar dinheiro para sustentar as pessoas da Escócia. Mas as pessoas sabem isso e é aceitável. A Europa não tem essa união política e isso é muito importante, porque a Alemanha tem dito que é preciso mais Europa, mas com isso quer dizer mais união política e a razão pela qual diz isso é porque precisa de uma união orçamental que é a única solução para a crise da zona euro. E quando a união monetária foi criada, muitos economistas disseram que se estava a colocar o carro à frente dos bois. Precisam de ter uma união política e orçamental antes de ter uma união monetária.


O euro vai sair da crise mais forte, mais fraco ou vai mesmo desaparecer?
       Acho que um dos problemas é que a zona euro juntou muitos países que não estão devidamente integrados  e não estão suficientemente preparados. Têm um histórico de inflação, perderam competitividade e ainda tenho dúvidas sobre a sobrevivência do euro no longo prazo, porque mesmo que sobreviva a esta crise, os problemas de competitividade ainda se mantêm. E isso significa que devemos continuar a ter um fraco crescimento económico nos países periféricos por um longo período de tempo. A ideia de um núcleo forte do euro é possivelmente o que teremos no futuro.


Então países como a Grécia devem abandonar a união monetária?
       Sim, sim.


E Portugal?
       Acho que Portugal tem um longo caminho a percorrer devido ao problema do crescimento económico. Há um risco de, e estou a falar num período de 10 anos, Portugal poder também sair da zona euro. Possivelmente também a Itália. Então ficamos apenas com a Alemanha, os países do Benelux, Áustria e possivelmente a França. É o que vai restar.


E a possibilidade de haver dois grupos dentro da zona euro?
       É possível, mas é muito difícil gerir essa situação. Se um país sai do euro isso causa muita turbulência. Mas parece que é isso que a Merkel quer. Temos de nos preparar para dar muito apoio a essas economias. Acho que iriam precisar de muita ajuda porque os países do ‘segundo euro' iriam ficar muito mais fracos.


Qual é o limite do programa de compra de dívida pelo BCE?
       Olhando para a situação actual, podemos considerar que o limite será na ordem dos trezentos mil milhões de euros. 300 mil milhões pode ser um limite, mas será o que Angela Merkel disser, talvez...


Online, 18 de Outubro de 2011