O Banco Central Europeu cortou em 25 pontos base a taxa directora, colocando-a em 1%, o seu mínimo histórico. Paralelamente, anunciou novas medias de suporte ao sistema bancário europeu, destacando-se i) o anúncio de dois leilões a 3 anos - o primeiro no dia 21 de Dezembro e o segundo a 29 de Fevereiro de 2012 - indexados a taxa das operações principais de financiamento, ou seja, 1%, actualmente; ii) a flexibilização das regras de aceitação de colaterais nas operações de financiamento dos bancos junto do BCE. De acordo com a decisão de 8 de Dezembro, a classificação do risco de operações ABS foi revisto de AAA para A e os activos subjacentes que compreendem hipotecas residenciais e empréstimos a pequenas e médias empresas, serão elegíveis para utilização como garantia em operações de crédito do Eurosistema; os bancos centrais nacionais passam a poder aceitar como garantia carteira de crédito dos bancos com boa qualidade de risco; iii) a redução da taxa de reserva de 2% para 1%, permitindo a libertação de activos a utilizar como colateral, dado suporte à actividade no mercado interbancário. Outra medida anunciada pelo BCE foi a descontinuação das operações "fine-tuning" realizadas no último dia do período de constituição de reservas, possivelmente com o intuito de reduzir a volatilidade na taxa EONIA que se verificava nessa altura.
As decisões de 8 de Dezembro confirmam por um lado, uma postura de combate aos sinais de forte arrefecimento da actividade, evidentes nas palavras de Mario Dragui que referem a existência de significativos riscos de recessão e na revisão das previsões de crescimento para 2012 para 0.3% (ponto médio), com o limite inferior do intervalo em -0.4%. Surpreendentemente, este cenário de acentuado arrefecimento será acompanhado por um abrandamento mais moderado do que o previsível dos preços. Com efeito, a estimativa para a inflação em 2012 é de 2%, o que compara com a anterior estimativa de 1.7%. Para 2013, as previsões para o crescimento e inflação são 1.3% e 1.5%, respectivamente.
Para além da decisão de redução da taxa de juro, a revisão das condições para aceitação de colateral e a extensão para três anos dos leilões evidencia que mais do que o nível das taxas de juro. O objectivo da autoridade monetária da zona euro é aliviar as condições de cesso a financiamento por parte da banca, praticamente assente no recurso ao BCE como emprestador de último recurso. Por um lado, a flexibilização das regras para aceitação de garantia facilitará o acesso a financiamento junto do BCE de bancos a quem este já estava, ou poderia vir a estar brevemente vedado e por outro lado, permite o financiamento a médio prazo, podendo, nos casos da banca com menor pressão para desalavancagem, retirar alguma restritividade na concessão de crédito.
O Eurostat confirmou que a zona euro cresceu 0.2% em cadeia n terceiro trimestre, com contributos idênticos da procura interna e externa: 0.2%, respectivamente. Todavia, a queda dos stocks, de amplitude semelhante, mas simétrica, reduziu o ritmo de crescimento da economia naquele período. Este último factor poderá, pelo menos parcialmente, reduzir o impacto negativo no crescimento durante o quarto trimestre do ano resultante do aumento da incerteza em torno das questões da dívida soberana europeia, por via do aumento da produção.
Teresa Gil Pinheiro, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI
Online, 9 de Dezembro de 2011